
O palhaço
Vestiram-me esta mísera roupa de palhaço,
e pelas estradas, sob todas as noites, sob todas as estrelas
caminho, caminho sempre.
Vejo que as mangas estão curtas,
também as calças estão bem curtas,
mas caminho sempre,
sem circo,
sem trapézio,
sem arena,
sem amores caminho sempre.
Antes de minhas exibições,
tenho como espelho o espelho dos grandes lagos
onde se miram os frágeis juncos,
onde repousam os inquietos pirilampos.
Mais tarde,
quando eu arrancar enfim a máscara,
boiará o azul, o branco, o roxo e o negro,
cores do meu desespero, cores de todos os risos.
Sou de uma troupe única no mundo:
vestiram-me uma roupagem que não é minha,
e ela comprime meu coração, meu cérebro e minh’alma;
sou de uma troupe única no mundo,
porque meus comparsas não cobrem jamais o rosto
e têm-no tranqüilo até a morte.
De mim, todos riem, sou o palhaço universal,
mas, se pudesses por acaso
olhar minha face na hora em que escrevo este poema,
oh, decerto cegarias ante tanta beleza e tanta luz!
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